quinta-feira, 5 de março de 2015

Por Que Corro?

Diariamente corro. Corro muito. Corro bastante. Todos os dias passo uma hora em cima de uma esteira de academia. Costumo correr trinta minutos, intercalados em três tempos de dez minutos, com direito a cinco minutos de caminhada para descanso e reposição de água. Às vezes chego a correr por cinquenta minutos, quando meu tempo e meu ânimo permitem.

Entrementes, quando digo às pessoas que corro diariamente, lançam o seguinte comentário clichê: “Então, você está se preparando para correr a São Silvestre?” E polidamente, respondo: Não. As pessoas costumam ficar perplexas com a minha negativa.

Correr para mim é uma necessidade fisiológica. É como uma espécie de desintoxicação. Uma limpeza. É como ir ao banheiro.

Por acaso, defecar na rua dá algum tipo de prazer?

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O Brasil Já Teve A Sua Penguin Books

Até a década passada, havia no mercado livreiro brasileiro, uma editora que possuía uma identidade e uma qualidade sem comparativos. Publicava livros clássicos com qualidade e em formato portátil. Essa era a editora Ediouro, que outrora fora conhecida como Edições de Ouro. A Ediouro ainda existe no mercado, porém sem qualquer explicação, deixou de publicar os excelentes livros clássicos, para dedicar-se a livros de apelo mais popular, como autoajuda e romances “água com açúcar”.

Lembro-me como se fosse hoje, que durante minha infância, sempre quando ia ao Centro de São Paulo com minha avó, passávamos em uma filial da extinta livraria Curió (que pertencia à Ediouro) e comprávamos revistas de palavra cruzada e livros das saudosas coleções Fantasminha e Elefante. Anos depois, quando entrei na adolescência, adquiri vários livros da coleção Universidade (que anos depois passou a ser chamada pelo simples nome de Clássicos de Bolso), dentre obras como Ilíada e Odisséia (Homero), A República (Platão), O Príncipe (Maquiavel), Drácula (Bram Stoker), Frankenstein (Mary Shelley) e outros mais.

Eram livros de ótima qualidade, que possuíam algumas capas em papel com relevo. As folhas internas também eram compostas de um papel de ótima qualidade, com uma diagramação muito boa, sendo que muitas continham ilustrações.

É com uma boa dose de tristeza, que vejo hoje o fim dessa maravilhosa fábrica de sonhos. Readquiri vários livros das coleções Universidade e Elefante, mas a maioria esmagadora desses foram adquiridos em sebos (a minoria provavelmente foi fruto de estoques esquecidos). Realmente, em questão de comparação com o padrão de qualidade da Penguin Books, não consigo pensar em outra editora que não seja a Ediouro. Como apreciador de seu trabalho, espero que sua diretoria reveja suas diretrizes e volte a produzir as coleções clássicas.

Posso seguramente afirmar, que a Ediouro foi uma de minhas principais vias de acesso à leitura e certamente, se não fosse por essa via, não seria o leitor e escritor que sou hoje.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

2014: A Copa Que Não Vi

"Problemas Sociais", desenho do artista Ivan Navarro.

A primeira Copa do Mundo que acompanhei com atenção foi a Copa de 1990, realizada na Itália. Essa foi também a única Copa em que ganhei um álbum de figurinhas do evento (álbum esse que completei e que possuo até hoje). Entrementes, não torci para a seleção brasileira. Minha admiração dividia-se entre o time holandês da então superdupla de ataque do Milan, formado por Marco van Basten e Ruud Gullit, e pelo coeso time inglês de Gary Lineker. Já no que tange o time dirigido por Sebastião Lazaroni, não conseguia nutrir o mínimo espectro de simpatia. No último ato dessa mesma Copa, assisti a final entre Argentina e Alemanha na casa de minha avó paterna, e através de meus parentes, fui confrontado pela primeira vez, com a animosidade ufânica e irracional que muitas pessoas daqui nutrem contra nossos primos argentinos. Era 1990 e eu tinha apenas doze anos de idade.

Passaram-se cinco Copas e nada mudou. Hoje, onze de junho de 2014, véspera da controversa Copa do Brasil, continuo com o mesmo sentimento apático com o time brasileiro. Todavia, com um agravante: Não assistirei essa Copa.

Sim. Não é momentânea minha aversão ao futebol. Fazem uns bons dez anos que não mais frequento estádios (costumava ir tanto ao Pacaembú, bem como à Rua Javari). O futebol tonou-se algo chato para mim, pois com a saída dos grandes jogadores do país, os times limitam-se a mesclar rebentos verdes e sem um destino concreto, com veteranos decadentes e limitados por conta de cotidianas intervenções cirúrgicas. Isso, sem mencionar o esgoto fétido da cartolagem mundial.

Entretanto, voltemos ao assunto da Copa de Dois Mil e Catorze. Primeiramente, essa Copa não é nossa. A Copa é da FIFA e de um conglomerado de empresas nacionais e multinacionais, que querem lucrar seus bilhões de dólares com o evento. É errado lucrar? Claro que não. A mera questão da sobrevivência implica em lucro. Mas, não consigo ter ânimo para assistir uma Copa estúpida como essa. Parte da imprensa noticia o fato de que mais de duzentas mil pessoas perderam suas casas, em face da desapropriação para construção de estádios e outras obras referentes à Copa. Destarte, alguém pode oferecer o seguinte argumento: “Ah, mas eram pessoas que moravam em favelas.” Não interessa! Mesmo morando em uma favela, era o único lugar que essas pessoas tinham para viver. Algumas das famílias que foram expulsas pela expropriação, residiam a mais de quatro gerações no lugar. Foram expulsas de suas casas sem nenhuma dignidade, com muita truculência policial, levando uma esmola dada pelo governo, mas sem outra casa para ter como lar. Só isso, é muita lama. Muita sordidez.

Não querendo apelar ao senso comum, mas realmente não é possível fazer uma Copa com hospitais e escolas. Mas a questão que não calo é a seguinte: É possível fazer um país sem hospitais e sem escolas? A palavra que define os serviços públicos no Brasil não é ausência, mas sim precariedade. Apesar da massiva carga tributária que vigora atualmente no Brasil, temos serviços públicos de péssima qualidade. Não é preciso informar-se através da mídia sensacionalista, para saber acerca dos absurdos que ocorrem em hospitais, escolas e outras instituições públicas.

Antes que alguém venha dizer que tenho síndrome de vira-lata (o “ame-o ou deixe-o” das pessoas simpatizantes do atual governo) por não apoiar a Copa e o time brasileiro, afirmo que é o próprio Governo Federal que está com essa síndrome, pois não apenas isentou a FIFA e seus parceiros de quaisquer tributos, bem como submeteu seu próprio povo a uma lei, onde a empresa proprietária do evento (FIFA) tem status de “Rei Sol” em uma terra estrangeira.

Lembremos também, de que metade dos estádios construídos são autênticos “elefantes brancos”, e que poderão ser demolidos a partir da data de treze de julho deste ano, pois não terão serventia alguma depois da Copa. Honestamente, não consigo digerir o fato da construção de um estádio com as dimensões de um Wembley, em uma cidade como Manaus. Cidades como essa, que não possuem nenhum time na primeira divisão do campeonato nacional, bem como, estão irrevogavelmente fora da rota dos grandes espetáculos internacionais, por não terem público suficiente para lotar um evento de grande porte. Um completo descaso e desperdício, financiado com o dinheiro público, ao contrário do que aconteceu na Copa de 2006, realizada na Alemanha, onde o Estado investiu apenas na infraestrutura urbana, sendo todo o investimento bruto do evento destinado à iniciativa privada. E sim! A FIFA pagou impostos nessa Copa.

Bom, é isso. Ainda não sei se passarei essa Copa nas ruas protestando ou em casa (lendo ou escrevendo). Mas um fato é indiscutível: 2014 ficará marcado em minha vida, como o ano que não vi a Copa.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O Rock Tornou-se Aquilo Que Mais Odiava

Pois é, pessoal. Quem diria que um dia isso viria a acontecer! O rock 'n' roll tornou-se música feita por gente careta! Desde os seus primórdios na década de 1950, o rock surgiu como uma voz oposta aos chamados ditames “da moralidade e dos bons costumes”. Quando Chuck Berry, Little Richard e Bo Diddley enfureceram homens brancos racistas de meia idade, quando esses souberam que seus filhos estavam dançando o frenético ritmo do twist. Elvis Presley horrorizou os moralistas com seu rebolado transmitido em cadeia nacional. John Lennon e os Beatles causaram a revolta dos religiosos fanáticos, pela afirmação de que os Beatles eram mais famosos do que Jesus Cristo. Os Rolling Stones e The Who eram a antítese do bom comportamento. Os jovens hippies usavam drogas psicodélicas e pregavam a paz e o amor livre em contraposição dos velhos moralistas e paranoicos que financiavam e promoviam a guerra do Vietnã. Jimi Hendrix no meio de um concerto, incendiava sua guitarra em um ritual, que para muitos moralistas era profano. Rob Tyner a frente do MC5 gritava: “Kick out the jams, motherfuckers!” (Chutem as elites). David Bowie personificava a androginia em contraponto à sociedade conservadora ocidental. Jovens punks gritavam sentimentos de desespero e frustração contra uma sociedade capitalista, que a cada dia se tornava mais fria, indiferente e desumana. O peso do heavy metal desafiou a música comportada e comercial das FM's...

Todavia, em plena segunda década do século XXI, vemos músicos de rock defendendo tudo aquilo que seus antecessores (e alguns deles mesmos), repudiavam no passado: A caretice e o falso moralismo.

Dave Mustaine, o primeiro guitarrista solista do Metallica e eterno líder do Megadeth, durante as décadas de 1980 e 1990, dizia-se anarquista e fazia discursos duros contra os governos, sobretudo à administração Reagan. Mustaine defendia uma completa descrença nas autoridades, em especial nas autoridades de cunho conservador. Entrementes, hoje rebatizado em uma igreja evangélica, o líder do Megadeth ao contrário da maneira como agia durante sua juventude, é membro do conservador Partido Republicano e defende a promoção de guerras bárbaras, como a Guerra do Iraque e a obediência aos preceitos morais do cristianismo neopentecostal. O Megadeth ainda é uma banda de heavy/speed/thrash metal, porém hoje suas letras falam acerca das novas crenças conservadoras de seu líder e muitos sucessos de outrora foram descartados em definitivo das set lists dos concertos.

Ted Nugent é o mais extremo de todos os roqueiros reacionários. Tendo sua carreira iniciada na década de 1960, o guitarrista dono do hit “Cat Scratch Fever”, hoje não apenas é membro do Partido Republicano, como também são notórias suas declarações racistas e xenofóbicas, que este costuma dar durante entrevistas. “Tio” Ted (alcunha da qual gosta de ser chamado), não aceita mais fazer concertos fora de território estadunidense e gaba-se por isso. Em uma de suas declarações polêmicas, afirmou que não faria uma turnê pela América Latina, pois “ficaria tentado a alimentar os animais.” O engraçado, é que se a tal turnê ocorresse, seriam os “animais” que dariam alimento ao Ted Nugent. Mas, enfim...

No Brasil, dentre os músicos de rock que enveredaram para o conservadorismo, se destacam Roger Moreira (líder do Ultraje A Rigor) e Lobão. Lobão, em especial, fazendo a voz mais alta do coro neoconservador, chegou a defender a ditadura do regime militar de 1964 e alinhou-se ideologicamente com teóricos da conspiração, como por exemplo, o ex-astrólogo e guru de autoajuda ideológica, Olavo de Carvalho.

Recentemente, assisti a um vídeo em que o guitarrista da banda Dr. Sin, Eduardo Ardanuy, reprovava (com um grão de areia de razão), a atual metodologia da educação musical no ensino público, citando Mozart, Bach e Beethoven e fazendo a seguinte declaração: “O pop é cancerígeno.” Tendo em vista tal frase, é de supor que seu autor não seja componente de uma banda de heavy metal, mas sim, um maestro ou um compositor de óperas, certo? Até porque, heavy metal é música popular, assim como a axé music, o pagode e tudo o que não seja erudito (sim, o jazz também é música popular).

Sim, tenho ciência de que sempre existiu um lado reacionário no rock. Basta notar a existência desde a década de 1980, das bandas de RAC (Rock Against Communism, um subgênero que mescla a música punk com hard rock, feito por bandas de ideologia neonazista). Entretanto, nenhuma dessas bandas fizeram parte da cena mainstream, pois mesmo visando o lucro, nenhuma grande gravadora investiria em algo que remetesse à extrema-direita.

Deixo notar que meu modo de pensar tende à corrente social-democrata e que não sou favorável a nenhum partido político. Pois no Brasil, dentre os partidos que possuem maior visibilidade na mídia, nenhum destes segue uma ideologia. Não passam de partidos neoliberais vazios, que possuem o mesmo modus operandi e praticam em comum acordo, o apelo à manutenção do status quo.

Por derradeiro, deixo aos roqueiros reacionários como mensagem final, o título da clássica série de álbuns do mestre Frank Zappa: "Shut up 'n play yer guitar!" (Cale a boca e toque sua guitarra!)

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A Internet E Suas Freiras

Sabe aquele momento em que você quer desabafar ou expressar algo na Internet? Pois é, esqueça isso. Ou então, aguente a consequência: As freiras de Internet! OK, já lhe explico o que é uma freira de Internet.

Freira de Internet é todo o indivíduo que não contente com seu status de “zé ninguém”, faz questão de afirmar-se como uma autoridade no quesito debate internético. E para isso, fará de tudo para provar que o interlocutor utiliza falácias em seu texto ou vídeo. É engraçado notar que em muitos casos, esses “especialistas em detectar falácias” querem arguir o suposto argumento inválido em conteúdos humorísticos ou em um desabafo feito por alguém. É sempre aquela conversa de que “isso é uma falácia!” ou “você cometeu a falácia X”. O mais engraçado é quando o “falaciologista” (sim, inventei esse termo agora), alega a presença do argumento inválido, mesmo quando este não existe no conteúdo em questão. Os mais simplórios dizem: “Cadê seus argumentos? Isso é uma falácia!”, porém o próprio sabichão não consegue sequer citar o tipo de falácia que o interlocutor cometeu. Isso é o que costumo chamar de “Falácia do Isso É Uma Falácia”.

Fico imaginando se essa coisa de arguir falácia a torto e a direito fosse usada no mundo físico: Está uma pessoa esperando um ônibus e este atrasa-se por dez minutos. O passageiro ao entrar no ônibus, dirige-se ao motorista e diz: “Parabéns! Você cometeu a falácia da enrolação no ponto final!” Ou então, durante uma balada, um cara aproxima-se de uma garota dizendo: “Você vem sempre aqui?”, ao que a garota lhe replica: “Essa é a falácia xavecum ad criptum”.

Todavia, devo assumir “mea culpa” nessa história toda, pois tempos atrás fiz alguns vídeos em meu canal "Pensamento Cítrico" abordando o assunto da erística e acho que ajudei a formar alguns “falaciologistas”. Inclusive, parei com a série de vlogagem sobre o assunto, justamente por me sentir mal com essa “freirice” idiota.

Não que eu esteja defendendo o uso de sofismas, mas caramba, quem alega o uso de falácias pelo interlocutor, na verdade não tem a intenção de rebater o que foi dito com um argumento limpo, mas sim, desmoralizar o interlocutor, expondo o argumento inválido deste. O apontamento da falácia não possui caráter de argumentação. O que deve ser arguido é o argumento real e limpo, em contraste à falácia proferida.

Um discurso limpo e sem sofismas é o plano ideal. O que devemos evitar é que o nosso conhecimento seja reduzido a um paralogismo barato e exibicionista.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Os Portões Estão Abertos!

Olá, amigo leitor! Seja bem-vindo a esta nova hecatombe de letras da Internet. Meu nome é Cesar, sou advogado, escritor, tenho dois canais no Youtube (veja a barra de links ao lado) e você acompanhará (se quiser, é claro) o que este escriba tem a oferecer.

Primeiramente, você deve estar pensando: “Minha nossa! Que título mais maluco para um blog esse cara inventou!” Ou você deve estar pensando: “Nossa! Esse cara deve ser um místico, um santo louco, o portador das verdades insolúveis!” E já lhe digo de cara: Não. Não sou nem um pouco místico, bicho-grilo ou o que mais valha. Na verdade, batizei meu blog em homenagem a duas coisas: Primeiro, ao meu cachorro (um bulldog inglês chamado Argos) e em segundo, a um dos discos mais épicos da história do rock 'n' roll: “The Piper At The Gates Of Dawn”, o seminal álbum do Pink Floyd. Apenas fiz um trocadilho, substituindo a palavra “flautista” (piper) por “bulldog”.

Meu cachorro Argos.

Resolvida a questão do título, venho por meio deste blog compartilhar um pouco das coisas que gosto e também meus pensamentos sobre a vida. Cada texto receberá um rótulo (conversa fiada, música, livros, cinema, comida, bebida, etc). E como esse texto em especial (e boa parte) receberá o rótulo de “conversa fiada”, afirmo-lhe que nada mais sou do que um “conversador”. Portanto, faço-lhe saber que não tenho a mínima intenção de apropriar-me do título de “filósofo” (título este, tão maliciosamente usurpado, por cada sete entre dez picaretas). O que farei nessas linhas elétricas da rede internacional, será no máximo um livre pensar direto e sincero, sem apelar para malabarismos de retórica ou paralogismos.

Antes desse blog, tive dois outros. No primeiro, escrevi sobre música e cinema, numa extinta plataforma do Terra. O outro era um blog jurídico, que desafortunadamente fora invadido e teve todo o conteúdo perdido (consegui reaver o domínio, mas como não fiz backup dos textos, fiquei desmotivado a refazê-lo – quem sabe um dia...). Entrementes, como muita água já passou sob a ponte, cabe a mim escrever e seguir em frente.

Muito bem, sem mais delongas, “pau na máquina” e até o próximo texto!